Ela pode ser discreta ou notável.
Vai depender da competência do fisioterapeuta.
No artigo de hoje, iremos falar sobre a importância da mobilização fascial no pré e pós operatório e porque ela é fundamental para o reparo tecidual.
Entender o que acontece no reparo tecidual e qual é o mecanismo celular para a formação da cicatrização é indispensável para apontar as melhores propostas terapêuticas.
Mas antes de falar sobre reparo tecidual, precisamos lembrar que nossos tecidos conjuntivos são formados por várias estruturas.
Dentre elas:
Em uma cirurgia, todas estas estruturas são machucadas e destruídas. Contudo, todas elas serão refeitas durante o processo de reparo e também sofrerão influência dos tratamentos terapêuticos, porque com exceção do laser que é seletivo, o fisioterapeuta atuará em todas elas ao mesmo tempo.
Isso é muito importante se saber por que, em algum momento, determinada proposta terapêutica pode ajudar em uma parte e atrapalhar em outra.
A maioria dos profissionais já conhecem o fibroblasto. Ele é a célula principal do tecido conjuntivo. É ele que sintetiza todas as moléculas na matriz extracelular (ME). Então, o fibroblasto é a célula que produz, dentre outras coisas, o colágeno.
Contudo, o que muitos profissionais ainda não conhecem é uma célula que se chama miofibroblasto.
Ele não é uma célula muscular. Ele é uma célula que é diferenciada durante o reparo tecidual. Ele é um fibroblasto que tem no seu citoplasma uma proteína que se chama alfa actina de músculo liso.
E o que faz o miofibroblasto se diferenciar do fibroblasto, entre outras coisas, é a tensão mecânica e também uma citocina TGF-Beta1.
Ele é uma célula muito específica que aparece no nosso tecido num momento de necessidade, quando a força tênsil do tecido está alterada.Nestas ocasiões, ele produz mais matriz e faz uma contração e fechamento das lesões.
Então, o miofibroblasto é uma célula super potente que produz muita matriz. Ou seja, na nossa cicatrização durante a fase proliferativa passando pra remodelagem, nós temos muitos miofibroblastos no tecido. Logo, ele é o responsável pela formação das fibroses. Toda vez que se estimula a cicatrização, se está estimulando sua presença.
O miofibroblasto é a célula diretamente ligado a formação de reparo patológico e excessivo.
Ele aparece no tecido por necessidade, estimulado por força mecânica e TGF-Beta1, e quando ele cumpre o papel dele, sofre apoptose e sai de cena. Quando isso acontece, a fase de remodelagem acontece (que é a resolução da cicatrização) e temos a formação de uma cicatriz.
Mas quando ele não sofre apoptose, ou seja, ele permanece presente no tecido, teremos a formação da cicatrização excessiva. O miofibroblasto precisa sofrer apoptose para iniciar o processo de remodelagem.
E é aí que está o grande problema de estimular a fase proliferativa. Se mantém o miofibroblasto na lesão e não inicia o processo de remodelagem. Ele precisa sair de cena para que se possa finalizar o processo de reparo.
Quando é feita uma lesão no tecido do corpo, o processo de reparo começa rapidamente, porque isso ameaça a sua sobrevivência. E por tentar se reconstruir de uma forma muito rápida para garantir a integridade funcional dos tecidos, ele acaba não tendo uma boa qualidade e por isso, normalmente, são excessivos.
O tecido cicatricial nunca mais terá a mesma estrutura do tecido normal. Ele pode não ser excessivo, mas sempre será uma cicatriz.
O papel do bom fisioterapeuta é justamente atuar no momento de formação dos tecidos cicatriciais para que eles tenham a melhor qualidade possível e não gere nenhum tipo de disfunção de sensibilidade ou movimento. Essa é a função do fisioterapeuta. Não se deve estimular ainda mais essa fase de proliferação, gerando excessos que irão prejudicar a funcionalidade do paciente.
O que a literatura diz?
Temos a classificação do reparo em três tipos:
Cada uma delas terá um tipo diferente de abordagem terapêutica.
O reparo normal só se conduz para que a remodelagem aconteça de uma forma adequada.
O reparo deficiente é quando o organismo não consegue sozinho passar da fase inflamatória para a fase proliferativa. Ou seja, quando se tem úlceras e feridas abertas que não se fecham, que não formam o tecido de granulação. Neste caso o fisioterapeuta deve ajudar, porque o corpo não está conseguindo fazer sozinho.
Contudo, a literatura orienta a não estimular depois da fase granulativa, que é a fase proliferativa. Porque se ocorre a estimulação, estará se estimulando um outro tipo de formação patológica que é o reparo exacerbado (fibrose e cicatrizes hipertróficas).
Portanto, é preciso identificar clinicamente como é que está o reparo do paciente para se escolher que tipo de tratamento será aplicado.
Por isso que é tão importante não se prender a protocolos de pós operatórios, porque cada paciente irá evoluir de uma forma diferente. Primeira coisa que se deve fazer é avaliar. Entender o que está acontecendo com o paciente naquele momento para que se possa propor uma abordagem terapêutica adequada.
Logo, não podemos nos prender a regras de tempo pós operatório. Na prática clínica é crucial aprender a avaliar e identificar.
Inflamatória:
Deve-se trabalhar reduzindo a inflamação desta fase, controlando-a e usar recursos para reduzir a área da lesão. Porque quanto mais intensa for esta fase, mais intensa será a fase proliferativa.
Proliferativa:
Temos que trabalhar na Matriz Extracelular. Os estudos falam que a formação do tecido de granulação pode inibir a linfangiogênese e a angiogênese, por isso pode formar uma barreira física para nova vascularização. Logo, temos que controlar essa fase de proliferação para que ela não seja metabolicamente alterada e assim, favoreça o acontecimento da fase de remodelagem.
Remodelagem:
Normalmente o corpo nesta etapa, já conseguiu uma cicatrização bem feita se o processo foi conduzido corretamente, mas pode haver uma complicação.
No caso de fibrose, quando a matriz está rígida, temos uma alteração no ambiente mecanobiológico tecidual. A presença da fibrose, aumenta a carga mecânica dos tecidos e faz com que haja um desequilíbrio entre a degradação e a síntese. Ou seja, a fibrose se retroalimenta produzindo colágeno sem parar. Por isso é difícil contornar a fibrose, porque é a própria célula que está estimulando a fibrose presente. Logo, deve-se trabalhar para diminuir a carga mecânica intrínseca, reestabelecendo o equilíbrio.
Boas práticas para um bom reparo tecidual temos algumas estratégias apontadas pela literatura que são:
Esta estratégia é a mais democrática, simples, eficaz e barata pois não precisa de equipamentos.
Ela se chama Off Loading.
Saber usar os conceitos de mecanotransdução, para assim, tirar o excesso de carga mecânica do tecido e controlar o ambiente mecanobiológico das lesões. Esta é a melhor proposta segundo os estudos atuais.
E para manipular o ambiente mecanobiológico do tecido é necessário saber realizar mobilizações faciais com toques suaves e contínuos. Assim você conseguirá normalizar e equilibrar o ambiente tecidual.
Simples assim. Não precisa de equipamento, ultrassom, radiofrequência, não precisa usar ventosas, ganchos…
É necessário aterrisar este conceito: tudo o que se faz e machuca o tecido, se estará estimulando a proliferação.
Então, é muito fácil trabalhar com a cicatrização quando se controla o tempo, quando não se estimula e trabalha dentro do que o corpo individual do paciente está pedindo.
Precisa estimular a cicatriz se está aberta, não está fechando? Ok, estimule a lesão. Ela está fechada, cicatrizada encaminhando para remodelagem? Não precisa estimular. Conduza e controle a parte mecânica da matriz para que o paciente involua dentro do remodelamento no tempo adequado.
Pré Operatório
Nesta etapa, temos que identificar se os tecidos têm ou não a mobilidade e o metabolismo adequados. Caso eles não tenham, a recuperação da lesão cirúrgica será bem dificultosa e problemática.
Mobilizar o tecido fascial com técnicas sejam elas passivas, passivas assistidas e/ou ativas alguns meses antes da cirurgia vão contribuir para um melhor reparo tecidual, contribuindo para uma cicatrização perfeita.
Mesmo havendo vários estudos informando que esse processo pode minimizar a chance de formação de cicatrizes hipertróficas e quelóides, infelizmente, no Brasil poucos médicos possuem esse conhecimento e direcionam seus pacientes para sessões de mobilização fascial pré operário.
Intraoperatório
A atuação do fisioterapeuta em centro cirúrgico, imediatamente após o final da cirurgia, tem sido cada vez mais frequente.
Cada vez mais, a presença de fisioterapeutas na sala cirúrgica tem sido requerida. Desta forma, imediatamente após a intervenção cirúrgica, seja estética ou para reabilitação, o fisioterapeuta já comece a reduzir a área da lesão com o auxílio de bandagens elásticas, facilitando o reparo tecidual.
O tape é usado em tiras largas para reduzir o espaço morto provocado pela intervenção cirúrgica. E a grande vantagem do tape é o seu tempo de atuação. Ele ficará atuando por até 10 dias sem precisar ser retirado, proporcionando segurança para o paciente, conforto e controlando a formação do edema. Isso não ocorre com a cinta porque ela precisa ser retirada todas as vezes para o banho, período no qual o edema ganha espaço.
O embasamento teórico em utilizar o tape em tiras largas imediatamente após a cirurgia é a seguinte: reduzindo o espaço subcutâneo, reduzimos também a quantidade de edema, fibrose e equimose e, assim, reduzimos a cascata inflamatória e todas as suas respostas exageradas, comuns nas cirurgias plásticas.
Pós-operatório
Neste momento, não devemos realizar tratamentos estéticos. Pela simples razão de que eles são utilizados para tecidos com estruturas e metabolismos diferentes dos tecidos cicatriciais. Somente após cerca de 2 meses eles podem ser liberados.
Movimentos controlados e até passivos protegerão as incisões e ainda preservarão a funcionalidade articular dos pacientes. Já é sabido que manter o paciente com restrição de movimento por 1 mês, aumenta drasticamente a probabilidade de disfunções neuromioarticular. Dores crônicas, retrações musculares graves e até compressões neurais são algumas das consequências da restrição do movimento no pós cirúrgico.
Conclusões
Até o próximo artigo!
REFERÊNCIAS
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