É tão natural que praticamente ignoramos.
Para muitos, parar para comer é só para saciar a fome.
Nunca houve tanta abundância de comida na história da humanidade como nos dias de hoje. E mesmo assim, a humanidade passa fome e é desnutrida a nível celular.
Fazemos várias coisas enquanto comemos e perdemos a conexão com os sinais do corpo.
As pessoas já não sabem se o “nó na barriga” é fome ou ansiedade devido a apresentação que fará para os diretores.
Quando somos bebês, esses sinais físicos estão bem presente e são bem interpretados naturalmente. Choram quando estão com sensação de fome e param de mamar quando estão saciados.
Depois, vamos perdendo o contato com esses sinais físicos e acabamos comendo até acabar a comida do prato, ou já estar desabotoando a calça passando mal.
Perceber as sensações do corpo e diferenciá-las é parte da prática do Mindful Eating, o comer com atenção plena, pois resgatamos a sabedoria do corpo de comer ou parar de comer. E o Mindful Eating tem se provado muito eficaz contra a compulsão alimentar através de vários estudos científicos.
É fundamental você conhecer esta “técnica” ou hábito para orientar e ajudar melhor seus pacientes ou alunos.
Por isso, compilamos tudo o que você como profissional da saúde precisa saber sobre Mindful Eating.
Agora que já sabemos bem o que realmente é Mindful Eating, vamos para alguns pontos práticos para você orientar melhor seus alunos e pacientes.
Incentive seus pacientes ou alunos a começarem a observar as seguintes coisas:
Além de não ser a comida que ele estava buscando e sim, aliviar a ansiedade.
Quando ele aprender a notar que aquela sensação física é ansiedade e não fome, incentive-o a buscar alguma atividade que lhe ajude a lidar com a ansiedade e que faça sentido para ele. EX: dar uma volta no quarteirão, tomar um banho, fazer uma massagem, passear no parque, conversar com um amigo, meditar etc. Incentive-o sempre a buscar algo diferente a comer para reduzir a ansiedade. Caso não tenha como no início, incentive-o a comer com atenção plena, devagar e degustando cada mordida do alimento.
Mais uma vez deve-se notar as sensações físicas do corpo para lhe dizer que está na hora de parar de comer. Assim, não passará do ponto e nem se sentirá mal fisicamente. Esta é uma prática que se deve repetir a cada refeição, assim ele reconhecerá mais facilmente as sensações corporais de saciedade.
Conhecer com mais intimidade as sensações do estômago é um passo importante nessa prática, estar atento aos sinais que o corpo lhe apresenta desde notar as sensações de fome e também as de saciedade. Este é um dos princípios do Mindful Eating.
E o que satisfaz a fome do estômago?
Duas coisas.
O estômago gosta de receber comida e trabalhar na digestão. E essa quantidade é para ficar confortavelmente cheio (nem mais nem menos). Uma parte ficará vazia para que possa se movimentar. Assim, poderá fazer seu papel e esvaziar com o tempo tranquilamente, para depois o lembrar com os sinais de fome para comer novamente.
O tipo de comida também influencia, pois não é a todo momento que podemos comer qualquer alimento, estar atento a essas sensações lhe ajudam a cuidar de seu estômago.
Por exemplo, está de estômago vazio e toma um café preto sem comer nada, algumas pessoas poderão sentir uma azia no estômago.
Antes, durante e após as refeições o seu paciente ou aluno deverá fazer isso até recuperar a consciência do seu corpo.
Oriente-o a fazer essa prática várias vezes. Aos poucos ele irá se familiarizando com a fome do estômago e, assim, conseguirá escolher o quanto exatamente comer de forma natural e tranquila, sem sofrimento e culpa.
Recentemente, estudos de vanguarda apontam que aprender a comer com atenção plena talvez seja a habilidade essencial que precisa ser aprendida para o combate contra a compulsão alimentar. Você pode ler vários estudos neste link.
“Comer consciente também significa olhar com curiosidade para qualidade alimentar, integrando o sentir e o saber”. - Driele Quinhoneiro
Deve-se trazer à mesa a sabedoria do corpo e a sabedoria externa, ou seja, aquilo que eu sinto podendo traduzir em sensações corporais e aquilo que eu sei sobre as coisas.
Desta forma, é possível abordar qualidade alimentar sem recorrer ao terrorismo nutricional, sem cair em um mar de regras de “pode” e “não pode”.
E como podemos fazer isso na prática?
Desenvolva a consciência do seu paciente ou aluno para estes dois pilares do mindful eating.
O ponto importante aqui é sentir, diferente de apenas pensar.
O ponto importante aqui é reflexão e NÃO autocrítica.
Isso não quer dizer que na próxima refeição seu paciente sentirá tudo o que a sabedoria do corpo pode lhe dizer ou que irá se questionar sobre todas as perguntas da sabedoria externa.
O nosso ponto é que ele pode se aproximar pouco a pouco de cada item. Sem cobrança e com curiosidade. Quer dizer também que pouco a pouco ele irá se empoderando e sabendo fazer escolhas melhores na sua alimentação, não porque alguém impôs isso a eles, mas sim porque eles mesmos chegaram a essa escolha, sabendo todo o impacto que ela trará tanto para o seu corpo como para seu ambiente externo. Isso é poderoso e pra vida toda.
Sentir fome e não comer fará com que assim que ele entrar em contato com uma comida que considera mais “irresistível”, possivelmente, perderá o controle na frente da comida.
Talvez ele “se controle” na frente de um brócolis. Mas não conseguirá “se controlar” na frente de uma coxinha ou uma bela mesa de café da tarde, por exemplo.
Ao sentir fome, sente-se, faça três respirações profundas e relaxe. Em seguida, comece a comer apreciando cada mordida.
Estimule-o a encontrar formas alternativas de diminuir o stress, tais como o exercício, meditar, relaxar, respirar antes de comer. Oriente-o a não comer nervoso e estressado.
Estes cuidados irão ajudá-lo a se tornar mais consciente, enquanto come e irão ajudá-lo a controlar o ciclo da compulsão alimentar.
Sinta tudo o que a comida pode te fazer sentir enquanto estiver comendo. Sinta o gosto, as ondas de prazer que ela está te dando, o som, a salivação, tudo. Coma devagar e vá prestando atenção em como seu corpo está respondendo ao comer.
Seu paciente ou aluno pode se perguntar se não comerá ainda mais se estiver sentindo prazer em comer.
A resposta dos estudos é que não.
Enquanto ele nota o que está sentido ao comer a tendência é que o episódio compulsivo dure menos, que a pessoa coma menos durante ele e que se sinta menos pior após, o que pode distanciar uma crise da outra.
E tem mais um outro benefício...
Apreciar o que se está comendo, também ajudará a diminuir a velocidade em que se come.
Assim ele conseguirá comer menos e se sentir saciado mesmo tendo comido menos comida.
A comida chega ao intestino em cerca de 20 minutos e uma vez que os alimentos cheguem lá os sinais químicos são enviados para o cérebro para parar de comer e a pessoa começa a se sentir satisfeita.
Se o indivíduo comer muito rápido, quando os sinais de saciedade forem enviados, ele já terá comido demais.
Se seu paciente ou aluno está num episódio de compulsão, oriente-o a comer longe da televisão, tablet, celular ou qualquer outra tarefa que não seja comer.
Faça-os perceber e notar os pensamentos de “isso não adianta pra mim”. Talvez, quando ele lembrar deste seu conselho na hora em que estiver tendo um episódio de compulsão, ele pensará “não vou comer aqui na frente da tv” e logo depois mais um pensamento “ah já estou comendo mesmo, essas coisas não adiantam para mim”.
Eduque-os que “pensamentos são apenas pensamentos”. Ele não é esses pensamentos, eles apenas acontecem em sua mente. É o trabalho dela produzir pensamentos.
Incentive-os a sentarem na mesa e desligar qualquer distração para comer com atenção plena, mesmo identificando isso “tarde demais” ou no meio do ato.
Sair do ciclo de compulsão é desafiador. Se seu paciente perceber somente após de comer que se alimentou com distrações, não deixe-o se culpar. A culpa apenas vai perpetuar o ciclo. Elogie-o que já ficou consciente do que fez e não está no piloto automático. Aos poucos ele irá acertar.
Com certeza a pessoa se distrairá com um aviso de um novo email que precisa de uma resposta urgente, uma mensagem no celular ou até algum colega de trabalho que passará algum serviço.
Nestes lugares, as pessoas irão se tocar que você está comendo, em horário de almoço, ficando até constrangidas de lhe incomodar com demandas do dia a dia. Isso ajudará a comer com atenção plena na comida e não ficar pensando nas demandas do trabalho.
Em vez disso, introduza na mente do seu paciente ou aluno a se concentrar em comer em quantidades moderadas, com calma e atenção como já falamos e com muita qualidade.
Inclua alimentos super-nutritivos em sua dieta e deixe-a saber que ele pode comer até se sentir satisfeito e sem fome. Alimentar-se conscientemente permite que ela coma até mesmo os alimentos mais elevados em calorias, pois aprenderá que pequenas quantidade podem ser o suficiente. E ainda assim, mesmo ele sendo calórico será nutritivo.
Neste quadro de compulsão, a pessoa terá mais resultados apenas cuidando da qualidade do que come e comendo até se saciar do que controlando a quantidade.
Antes de comer, respire de três a quatro vezes. E enquanto faz isso, aproveite para olhar para a comida, aprecie as cores, texturas e aroma dos alimentos.
Quando sentir-se satisfeito, levante da mesa ou peça para o garçom retirar seu prato se estiver num restaurante. Isso evitará a compulsão de “comer só mais um pouquinho”.
Espero que este artigo tenha lhe ajudado a esclarecer sobre o tema e a passar alguns insights para seus pacientes ou alunos.
Até o próximo artigo.
Cadastre seu e-mail e fique por dentro dos nossos cursos.