Ele faz parte do sistema nervoso, o qual exerce total influência nos processos:
– Digestivo e na motilidade;
– Transporte de íons associados à secreção e à absorção;
– Fluxo sanguíneo gastrointestinal.
Contudo, este controle não é todo realizado apenas pelas conexões existente entre sistema digestivo e sistema nervoso central. O sistema digestivo também está dotado pelo seu próprio sistema nervoso local, que se chama sistema nervoso entérico.
Ele é tão importante que é considerado nosso “segundo cérebro”. Nele, há uma complexa rede de mais de cem milhões de neurônios (quase tantos quanto na medula espinhal) que que vão desde o esófago até ao ânus. Como se não bastasse, o sistema nervoso entérico é capaz de agir de forma independente do cérebro.
Essa área do sistema nervoso autônomo, é uma das mais interessantes do nosso corpo, sem sombra de dúvidas. Ultimamente, há várias publicações sobre essa ideia do sistema nervoso entérico ser nosso segundo cérebro. Contudo, vale ressaltar que ainda não é uma unanimidade na comunidade científica.
Um dos trabalhos mais conhecidos sobre o assunto é o do Dr. Michael D. Gershon, presidente do departamento de anatomia e biologia celular da Universidade de Columbia. Em seu livro, ‘Segundo Cérebro’, o conhecido pai da neurogastroenterologia desenvolve ideias importantes, como o interessante fato de que 95% da serotonina e 50% da dopamina são produzidos no sistema gastrointestinal.
Como se isso já não fosse super interessante, em maio deste mesmo ano a Universidade de Flinders, em Adelaide (Austrália), descobriu algo ainda mais impressionante que foi publicado na revista The Journal of Neuroscience. O sistema nervoso entérico é capaz de gerar atividade elétrica, e o faz com um padrão único e diferente do cérebro.
Outro fato curioso é que este segundo cérebro é sensível às emoções que ameaçam a nossa vida, ou seja, a resposta de combate ou fuga e os sinais que captam serão enviadas à outra rede nervosa do nosso intestino, o sistema nervoso central, para executar a resposta, como a ativação dos centros de defecação (o que se traduz em ir mais vezes ao banheiro) ou a alteração da produção de suco gástrico através de sinais enviados ao estômago.
O sistema nervoso entérico é bem extenso. Como já abordamos no início, ele começa no esôfago, termina no ânus e recobre toda a área do nosso sistema digestivo que tem uma extensão média de 10 a 12 metros. Dentro desses órgãos, como é o caso dos próprios intestinos, existe uma vasta camada de neurônios.
Além disso, outro aspecto interessante é o fato de que esta parte do nosso corpo, além de ser altamente especializada, realiza as suas funções de forma autônoma. E mais, embora se comunique com o sistema nervoso central, é capaz de enviar um grande número de informações ao cérebro.
O sistema nervoso entérico está formado principalmente por dois plexos, os quais estão incrustados na parede de todo o trato digestivo (do esófago ao ânus):
● O plexo mientérico:
está situado entre as capas do músculo da túnica muscular e, de forma adequada, exerce um controle sobre a motilidade do trato digestivo, que são os movimentos peristálticos para excreção do bolo fecal.
● O plexo submucoso:
está enterrado na submucosa. A sua função principal é detectar o ambiente dentro do lúmen, regular o fluxo sanguíneo gastrointestinal e controlar a função das células epiteliais. Em regiões onde estas funções são mínimas, como o esófago, o plexo submucoso é escasso e pode faltar em secções.
Além dos plexos nervosos entéricos maiores, existem plexos menores embaixo da serosa, dentro do músculo liso circular e na mucosa.
Dentro dos plexos entéricos existem três tipos de neurônios os quais são multipolares em sua maioria:
● Os neurônios sensoriais:
recebem informação dos receptores sensoriais na mucosa e no músculo. Foram identificados pelo menos cinco receptores sensoriais diferentes na mucosa, que respondem a estímulos mecânicos, térmicos, osmóticos e químicos. Foram encontrados quimiorreceptores sensíveis aos ácidos, à glucosa e aminoácidos que, em suma, permitem a “degustação” dos conteúdos lumínicos. Os receptores sensoriais no músculo respondem ao alongamento e à tensão. Coletivamente, os neurônios sensoriais entéricos apresentam um grupo completo de informações sobre o conteúdo intestinal e o estado da parede gastrointestinal.
● Os neurônios motores:
dentro do plexo entérico controlam a motilidade e secreção gastrointestinal, e possivelmente a absorção. No desempenho dessas funções, os neurônios motores atuam diretamente sobre um grande número de células efetoras, incluindo o músculo liso, as células secretoras (principais, parietais, mucosas, enterocitárias, exócrinas pancreáticas)
● Os neurônios internos:
são, em grande medida, responsáveis por integrar a informação dos neurônios sensoriais e de proporcioná-la aos neurônios motores entéricos. (“programadores”).
● Os neurotransmissores que regulam os processos desse conjunto de fibras nervosas são a acetilcolina, noradrenalina e adrenalina.
● Além disso, assim como o próprio sistema nervoso, o sistema entérico também sintetiza a serotonina, a dopamina, os opioides para a dor, etc. Tudo isso faz com que, muitas vezes, seja conhecido como o nosso laboratório químico.
● O professor Gary Mawe, médico do Departamento de Ciências Neurológicas da Universidade de Vermont, ressalta que nada é tão complexo e delicado quanto a própria digestão. Devemos considerar que o sistema nervoso entérico determina, por exemplo, quais enzimas digestivas são as melhores para decompor cada alimento.
● Ele monitora até mesmo a acidez estomacal, promove a movimentação intestinal e supervisiona o nível das nossas defesas.
● Sabe-se até que é capaz de detectar se há alguma bactéria no alimento ingerido. Se assim for, provocará processos como vômitos ou diarreia.
Como dissemos anteriormente, a maioria da serotonina e dopamina é produzida pelo intestino. Os níveis desses neurotransmissores no nosso corpo podem afetar o nosso estado de ânimo e sono. A relação entre neurotransmissores e emoções é muito estreita, logo, podemos observar uma relação direta entre as emoções e o sistema nervoso entérico.
Você já deve saber que a serotonina é chamada de “hormônio de felicidade”. Não é à tôa que estudos encontraram níveis baixos de serotonina em indivíduos diagnosticados com depressão. Além disso, o nosso cérebro usa serotonina para produzir melatonina, um hormônio fundamental para ajudar-nos a dormir. Logo, a quantidade de serotonina que o corpo produz teria um impacto direto na qualidade e quantidade do sono.
O intestino é o único órgão do corpo que pode funcionar de forma autônoma, como vimos no início do artigo. No entanto, em certos momentos, precisa da comunicação essencial com o cérebro. Essa comunicação acontece através do nervo vago. Como curiosidade, um estudo realizado na Faculdade de Bioengenharia da Universidade Duke observou que, de cada dez comunicações estabelecidas entre o cérebro e o intestino, 9 partem do cérebro.
Uma das comunicações entre o sistema nervoso entérico e o cérebro é informar quando comer e quando estamos saciados. Isso é feito regulando uma série de hormônios que produzem uma sensação de bem-estar e saciedade (crelina e leptina basicamente).
Da mesma forma, é também este conjunto de fibras nervosas que oferece ao cérebro uma sensação de prazer quando consumimos a comida de que gostamos ou que nos agrada.
Outro fato importante: quando sentimos estresse, o sistema entérico é muito sensível a esse estado e gera mudanças. Assim, o clássico nó no estômago, por exemplo, se dá pelo aumento do nível de sangue nessa área.
Nos últimos anos, diversas pesquisas (ainda não conclusivas) foram realizadas para descobrir como a microbiota intestinal condiciona o nosso comportamento e emoções. Sabe-se que uma flora bacteriana ruim pode afetar o nosso humor, mas os dados ainda não são conclusivos de maneira consistente.
Contudo, vamos pontuar nesta próxima seção…
A população da bactéria intestinal tem um impacto na saúde emocional e mental, assim como na nossa capacidade para dormir durante a noite. Um estudo que contou com 40 mulheres saudáveis concluiu que as mulheres com um porcentagem mais alto da espécie de bactérias Prevotella nas suas fezes apresentaram uma maior propensão a terem emoções negativas depois de verem imagens negativas em comparação com as mulheres com uma porcentagem mais alta da espécie de bactérias Bacteroides nas suas fezes.
Da mesma forma, os indivíduos com autismo parecem ser mais susceptíveis a problemas gastrointestinais como a doença intestinal inflamatória e o intestino permeável, e isso pode ser devido à alteração da composição microbiana do intestino. Contudo, quando este grupo de indivíduos recebeu uma determinada cepa probiótica, notaram uma melhoria na integridade da barreira intestinal, assim como uma redução nas condutas relacionadas caracteristicamente com o autismo.
Por último, existe uma estreita relação entre as nossas bactérias intestinais e o sono. As bactérias no nosso intestino ajudam na produção de serotonina (que logo passa a formar melatonina), mas talvez poucas pessoas saibam que a nossa população microbiana intestinal também pode ser afetada pela falta de sono ou por um sono de má qualidade. Isso significa que existe um círculo vicioso de privação de sono, má qualidade do sono e má saúde intestinal.
Vale a pena mencionar um detalhe: esse conjunto de fibras nervosas não “pensa”, não apresenta nenhum processo cognitivo, mas sente. É sensível ao estresse, às emoções, e é capaz de regular múltiplas funções para mediar o nosso bem-estar.
O sistema entérico é, portanto, outro centro de comando essencial para a vida. Por isso, é importante colocar em sua rotina técnicas que ajudam a deixar o seu intestino saudável.
O LPF é um sistema de treino que beneficia a função visceral através da respiração rítmica associada a fase de aspiração diafragmática. Um diafragma normotônico e exalações longas favorecem o bom funcionamento do intestino sendo assim uma excelente alternativa para a manutenção da função ótima do Sistema Nervoso Entérico.
Referência:
Quevedo, M. T. EL EJE CEREBRO-INTESTINO Y SU RELACIÓN CON EL ESTRÉS.
Qin, J., Li, R., Raes, J., Arumugam, M., Burgdorf, K. S., Manichanh, C., … & Mende, D. R. (2010). A human gut microbial gene catalogue established by metagenomic sequencing. nature, 464(7285), 59.
Menéndez, Marta. “O Que é o Sistema Nervoso Entérico e Sua Fisiologia – RESUMO.” Br.psicologia, Br.psicologia-Online.com, 4 July 2019, br.psicologia-online.com/sistema-nervoso-enterico-e-sua-fisiologia-153.html.
“Sistema Nervoso Entérico: Não Pensa, Mas Sente.” A Mente é Maravilhosa, 19 Mar. 2019, amenteemaravilhosa.com.br/sistema-nervoso-enterico-nao-pensa-mas-sente/.
Spencer, Nick J., et al. “Identification of a Rhythmic Firing Pattern in the Enteric Nervous System That Generates Rhythmic Electrical Activity in Smooth Muscle.” Journal of Neuroscience, Society for Neuroscience, 13 June 2018, www.jneurosci.org/content/38/24/5507.
“A Window to the Gut’s Brain.” Duke Pratt School of Engineering, 1 Mar. 2018, pratt.duke.edu/about/news/window-guts-brain.
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